Relato da Mãe de um Aluno da Escola Estadual Professor Darcy Araújo – Teresina – PI.
Um filho mais que especial
Chamo-me Elma Almeida, sou mãe de Ricardo Almeida o qual estuda há quatro anos em escola estadual - Centro de Ensino de Tempo Integral Professor Darcy Araújo. Ele é deficiente intelectual, com certo nível de autismo, compreende tudo e a todos à sua maneira, com seus questionamentos e carisma, conquistando todos com sua amizade. Venho através deste espaço, deixar um pouco da experiência do meu filho, sobre o seu desenvolvimento escolar.
Sou uma mãe muito determinada em relação aos objetivos educacionais para meu filho, então eu sempre busquei algo que pudesse acrescentar, incentivar, motivar e alegrar o aprendizado e desenvolvimento social do meu filho.Os choros e os porquês foram muitos, tantos quanto suficientes para transformar as dificuldades em força e amor.
Quando ele foi para a escola Darcy Araújo, foi um desafio muito grande, pois já estava adaptado à rotina e aos amigos da escola onde estudava. Estava saindo de uma escola particular tida como referência no estado, com ótimos profissionais da educação e direção. Entretanto, eu queria mais independência em sala de aula para ele, abrindo espaço para ele próprio e que o mesmo conhecesse um mundo diferente do seu.
Nessa época, fiquei sabendo do projeto de educação para jovens e adultos e fui aconselhada a procurar uma escola onde eu pudesse conhecer este projeto, junto à secretaria de educação. Peguei informações de algumas escolas e sai em busca de uma, para meu filho. Recebi algumas negativas por não terem o projeto na escola, mas continuei, até saber que o projeto só funcionava à noite, não achei a idéia muito boa.
Foi quando encontrei, em 2008, no Darcy Araújo, a chance de incluir meu filho numa turma da manhã, era tudo que eu precisava para começar aí, outra fase de sua vida. Os primeiros dois anos foram um processo de adaptação, ele estudava pela manhã na escola do estado e no período da tarde na escola particular, foi feito isso para que eu pudesse convencê-lo desta proposta da nova escola, já que eu precisei de um tempo para organizar essa idéia na sua rotina de vida. Para que eu acompanhasse mais de perto, resolvi trabalhar como voluntária na escola, começando com um projeto desafio, em seguida, tornei-me membro do conselho escolar, ajudando na parte administrativa e eventos em geral. Hoje, faço parte também do CAE - Conselho de Alimentação Escolar, órgão que fiscaliza e orienta, a merenda nas escolas do estado.
Em 2009 começou o projeto de tempo integral na escola onde os alunos passariam a manhã e uma parte da tarde na escola. Mais uma vez tive que fazer uma escolha, já que o período de permanência na escola ia aumentar, ele não poderia ficar só meio período, tivemos uma decisão democrática, onde ele, como principal protagonista, decidiu que queria ficar na escola em tempo integral, já estava adaptado à rotina e às crianças. Outra mudança seria um retrocesso.
Ricardo, hoje, participa da rotina escolar, o seu processo de aprendizagem é lento, mas está dentro de seu limite. Escreve as atividades propostas do quadro, coisa que antes ele não fazia, os professores estão mais atentos, trabalhando em cima de suas dificuldades, juntamente com a ajuda de um nova ferramenta muito importante, que é a Sala de Recurso, onde na sala tem uma pedagoga que ajuda nas dificuldades encontradas pelo professor. Interage com os colegas, gosta de deixar a escola organizada, outra característica pessoal dele, que é importante ser respeitada, recolhendo até mesmo os copos que ficam na mesa. Se preocupa com tudo da escola, até mesmo o patrimônio, dando dicas para a direção do que fazer e também quando algum aluno faz alguma coisa fora do normal na sala de aula e fora dela. Participa de todas as atividades esportivas e eventos da escola e um detalhe, adora ir para a escola.
Recentemente, no último dia 08 de maio, ganhou medalha de ouro no II Campeonato Teresinense de Karatê, disputando em igualdade com outros alunos. Ele faz os treinamentos junto com os alunos no programa mais educação na escola e ainda encontra energia para fazer fora dela, aulinha de futebol e continuação do karatê, com o mesmo professor do Darcy.
Eu acredito na mudança, pois elas estão acontecendo e muitos pais me procuram para perguntar sobre o processo, falo e ainda convido para conhecerem. O processo é lento, mais se cada um de nós fizer um pouco cada dia e lutar por isso, cada momento escolar de nossos filhos serão mais felizes. Basta mudar a nossa referência de tempo e nos adaptarmos ao tempo delas e daí todos aprenderemos! Meu filho é mais que especial, e é por isso que luto pela causa da inclusão. Por ele e por tantos outros que precisam desta acolhida, com amor, atenção, respeito e muito carinho nas escolas do presente e do futuro.
A inclusão começa com todos nós. Em certo sentido, todos somos especiais, pois não existe nenhuma pessoa exatamente igual a outra. Todos nós, com nossas peculiaridades, habilidades, dificuldades, somos todos diferentes.Viva a diferença, viva os especiais!!
Foto: Elma Almeida e Ricardo.
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